Por Iara Nunes
Em meados deste ano, foi anunciada a criação do G500, grupo fundado após cinco tradicionais hospitais de Goiás iniciarem a integração de suas operações. Na oportunidade, formaram o grupo, que nasceu como um dos maiores do Centro-Oeste, o Hospital da Criança, Hospital do Coração, Hospital de Acidentados, Hospital Santa Mônica e Ela Maternidade. A expectativa é que, para os próximos meses, possa ocorrer a integração de um sexto membro, que ainda não teve o nome divulgado e é guardado a sete chaves.
Uma consultoria especializada levantou, na época do anúncio da integração, que a união dos cinco grupos criou um negócio avaliado em mais de R$ 1,2 bilhão. O G500 gera de mais de três mil empregos e atua há mais de quatro décadas em Goiás. Integrações desse porte acontecem no mundo dos negócios e são cada vez mais frequentes. Uma onda de fusões e aquisições, IPOs e outras transações bilionárias tem movimentado o setor de saúde privada no Brasil, inclusive o de Goiânia – mas não com tantos grupos consolidados, na mesma cidade e sem uma âncora comprando as demais, sendo o G500 um formato considerado inovador por estas características e pelo porte da operação.
Analistas do mercado e representantes do setor afirmam que esse movimento, que vem ocor-rendo mais fortemente desde 2019, não deverá parar tão cedo.
“Desde então todos nós fomos abordados por grandes grupos em diferentes momentos”, afirma o presidente do Conselho de Administração do G500, Clidenor Gomes Filho.
Como resposta, e para fortalecer o segmento em Goiás, optou-se pela integração. “Hoje se tem grandes empresas, grandes grupos, fundos entrando no setor de maneira muito agressiva, fa-zendo com que os pequenos hospitais fiquem mais vulneráveis a esse tipo de assédio dos gran-des”, pondera Paulo Jardim, diretor do Hospital do Coração.
O mercado está mais competitivo. Operadoras de saúde, laboratórios e redes hospitalares con-vergem numa mobilização de ganho de escala, profissionalismo e qualidade que promete dar maior sustentação ao sistema de saúde não apenas goiano, como nacional.
“Não podemos ser simplistas, pois o processo envolve diversos fatores. Com a injeção de capital, uma grande estrutura de rede e know-how, as compras e vendas em grandes escalas que acon-teceram em diversos setores chegaram na saúde”, destaca Haikal Helou, diretor do Hospital Santa Mônica.
Neste sentido, o G500 surge, segundo Paulo Jardim, como uma forma de proteger as operações já existentes nos hospitais. “O setor de saúde está muito aquecido, existe muita especulação e assédio em termos de compra e venda de unidades hospitalares. Queremos proteger os nossos negócios e deixar que funcionem com segurança.”
Para Paula Pires de Souza, diretora clínica do Hospital da Criança, o maior ganho para o corpo clínico é a segurança de uma rede goiana, de que não vai haver mudança expressiva nos valores destes hospitais. “Nós queremos as melhores condutas, os melhores profissionais e atender melhor os nossos pacientes com base nas diretrizes de cuidados da sociedade e das especialidades”, disse Paula, destacando a que o G500 fortalece o legado da Medicina regional.
Segundo levantamento realizado pela RGS Partners, boutique de M&As que atua em todas as fases de processos de fusões e aquisições, o setor de Saúde concentrou mais de 60 fusões e aquisições em 2020 no Brasil, movimentando quase US$ 2 bilhões.
Todas essas negociações trouxeram mudanças significativas para o setor. Olhando para Goiás, grande parte das empresas de saúde goianas tem perfil familiar.
“Goiânia talvez seja um dos últimos locais em que se registrou uma entrada tão expressiva das grandes redes. Registramos, por exemplo, duas grandes aquisições este ano, a do (Hospital) Neurológico e a do Cebrom”, diz Paulo Jardim.
Segundo a Agência Nacional da Saúde Suplementar (ANSS) há no Brasil 959 operadoras com beneficiários. Já os hospitais privados, conforme a Confederação Nacional da Saúde (CNSaúde), superam 4 mil.
Com a expressividade, o mercado está cada vez mais competitivo. Para Sérgio Daher, do Hospital de Acidentados, esse aporte de grandes grupos vem transformando a saúde no País, o que gera um resultado positivo. “Com investimento você transforma os hospitais com recursos e oferece à população soluções melhores, mais resolutivas. É preciso ficar claro que a qualidade do setor é própria do crescimento científico e acadêmico, já essas negociações influenciam a nível de gestão e negócio”, diz Daher.
Com a nova empresa e a implantação de novos processos, a previsão é a ampliação de 30% da capacidade de leitos hospitalares privados do grupo, que hoje é próximo a 500 leitos; a geração de centenas de empregos na área de saúde; a ampliação de recursos para projetos de qualidade; e, muito importante para o Estado, realizar novos investimentos em infraestrutura. A previsão é de que os investimentos totais ultrapassem R$ 100 milhões na primeira fase do projeto.
Internamente, dentro dos hospitais, a notícia foi bem recebida. É o que conta Sérgio Daher. Segundo o médico, isso se deu devido a uma comunicação robusta e transparente.
“É preciso colo-car para os profissionais dos hospitais que todos temos a ganhar. Será possível oferecer mais tanto para eles quanto para todos os pacientes. Se há espaço para melhorar, nós vamos fazer isso. A receptividade foi muito boa, estão todos empolgados”, conta.
A origem do Grupo hospitalar G500
Por Clidenor Gomes Filho
Desde outubro de 2020, em plena pandemia, tive conhecimento de vários movimentos empre-sariais entre os hospitais de Goiânia. Tratava-se de propostas de aquisição oriundas de fundos de investimento e de grupos consolidadores de outras regiões do Brasil. No final de dezembro, re-cebi a visita de Dickson Tangerino, um consultor com experiência neste gênero de negócios, abordando a possibilidade de preparar a Ela Maternidade para futura alienação. Falamos sobre a possibilidade de agregar alguns hospitais, que pudessem obter ganhos de escala ou atingir um porte que tornasse a alienação mais atraente para o mercado.
Nos feriados de final de ano pensei bastante sobre o assunto e resolvi desenvolver um projeto diferente. A ideia principal era constituir uma empresa de participações (holding), controladora dos hospitais participantes, para obter ganhos de qualidade e de eficiência, por meio de sinergias entre si.
Em janeiro, procurei inicialmente o colega Sérgio Daher, sócio do Hospital de Acidentados, para apresentar a ideia. O Dr. Sérgio é um destacado ortopedista, referência como cirurgião de coluna vertebral, pessoa de excelente reputação, e tem grande liderança empresarial e no terceiro setor. Não me surpreendi com o seu entusiasmo e acolhimento da ideia.
Procurei também o Dr. Haikal Helou, sócio do Hospital Santa Mônica e destacada liderança na área hospitalar, e resolvemos agregar o nosso respectivo entusiasmo. Conversei também com o Dr. Paulo César Veiga Jardim, do Hospital do Coração de Goiás, que foi meu professor na graduação, e com Gustavo Suzin Clemente, administrador do Hospital da Criança. A ideia tomou corpo e agregamos as participações dos colegas Vardeli Alves de Moraes, Válnei Luiz da Rocha, Paula Pires de Souza, Miguel Luis Eliam, Alexandre Vieira de Moraes e Frederico Mesquita Gomes.
Foi constituído um grupo de trabalho que, com reuniões semanais na Ela Maternidade, fez evoluir o projeto. De início, assinamos um termo de confidencialidade elaborado pelo Dr. Paulo Cé-sar e, em 08 de abril de 2021, assinamos um documento com o esboço do projeto, para ser apre-ciado pelos controladores dos hospitais participantes. Após aprovação, decidiu-se divulgar o projeto para o corpo clínico e funcional de cada hospital. Em seguida, foi feito o lançamento público, que se deu no dia 28 de junho de 2021, em evento para a imprensa realizado no Castro´s Park Hotel, em Goiânia.