Capital goiana testa o novo modelo no transporte coletivo que se destaca pelo conforto e pela qualidade aos passageiros, além de não agredir o meio ambiente
João Paulo Alexandre
Goiânia desenvolve uma política de transporte urbano que pode levá-la a se tornar uma referência em eletromobilidade. Atualmente, a cidade conta com dois veículos em teste no transporte coletivo, que vem sendo bem avaliados pelos usuários devido à praticidade e conforto que oferecem, além da baixa ou nula agressão ao meio ambiente. A expectativa é que ele seja utilizado em corredores exclusivos, como o Eixo Anhanguera e o Bus Rapid Transit, o chamado BRT.
Mas, antes de tudo, vamos entender o que é a eletromobilidade. Nada mais é do que a transformação da mobilidade de ônibus, carros ou caminhões de combustão à eletricidade. O secretário-geral do governo estadual, Adriano da Rocha Lima, explica que essa tendência é um caminho sem volta. Apesar disso, ele lembra que são necessários investimentos para que a eletromobilidade possa funcionar sem nenhum problema.
Ele destaca que, atualmente, o modelo híbrido ainda tem sido muito utilizado no mercado por causa de uma infraestrutura necessária para locais de carregamento desses veículos. Um carro híbrido pode se utilizar da eletricidade e também de combustíveis. Por isso, em Goiânia, os veículos utilizados já foram comprados levando em consideração a previsibilidade da distância que eles vão percorrer. Desse modo, 100% elétricos.
“O Eixo Anhanguera é um BRT que terá mais de 70 ônibus elétricos articulados. Em outro eixo, o Norte-Sul, o BRT, que deve ser inaugurado no início do ano que vem, também terá ônibus elétricos. Neste caso, super padrão 15 metros, que são um pouco menores dos que serão utilizados na Anhanguera, mas ambos farão parte do mesmo sistema BRT, integrados e 100% operados por ônibus 100% elétricos”, destaca.
Adriano destaca que seis veículos já foram adquiridos para rodarem no Eixo Anhanguera e que eles devem começar a operar entre janeiro e fevereiro do ano que vem. Além disso, ele pontua que os cinco terminais e as 19 estações do Eixo passarão por reforma que devem começar já no final de dezembro deste ano para se adequarem à realidade do novo sistema de transporte.
“As obras devem durar pouco mais de um ano e as entregas ocorrerão de maneira progressiva. A gente está fazendo de uma forma que não impacte ao mesmo tempo toda a cidade porque você tem algum transtorno nos locais que estão sendo feitas obras. Provavelmente serão feitas de quatro em quatro (estações). […] As garagens das concessionárias, como a Metrobus, estão sendo adaptadas para colocarem os carregadores elétricos para que os ônibus sejam recarregados”, pontua.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Goiânia (SET), Adriano Oliveira, pontua que a eletromobilidade nasce com o princípio de alinhar a tecnologia com o respeito ao meio ambiente. “A eletromobilidade no transporte público de passageiros é hoje uma tendência mundial, vem sendo impulsionada por uma crescente inovação tecnológica aplicada aos veículos e à infraestrutura de recarga elétrica associada, com benefícios para operadores e usuários dos serviços, e que resulta em contribuição importante do setor para a transição energética rumo a uma economia de baixo carbono, na medida em que reduz a zero a emissão de gases do efeito estufa”, pontua.
A chegada de veículos elétricos para ajudar na mobilidade é visto como algo estratégico para proporcionar a qualidade do serviço. A eletromobilidade tem crescido em várias cidades do Brasil. Pelo menos oito sistemas de transporte coletivo utilizam veículos elétricos, como Brasília (DF) e a Grande São Paulo.
“Acho que o primeiro ponto é isso. Se você for avaliar, tirando São Paulo, Goiânia terá a maior frota elétrica do Brasil, a maior. E nós queremos trabalhar nisso mesmo, quer ser dessa forma. Isso é tanto do ente público quanto do ente privado. Quer realmente ser diferenciado, quer ter vanguarda, ser inovador, ser referência em relação a isso”, diz o presidente da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), Tarcísio Abreu.
Segundo Miguel Pricinote, do Fórum Mova-se, os veículos que estão rodando em Goiânia contam com 15 metros de comprimento cada, com capacidade para 100 passageiros, ar condicionado, carregadores de celular, Wi-Fi, seis câmeras de alta definição e sensores nas portas. Eles também têm um design moderno e uma carroceria produzida pela empresa brasileira Caio.
“A ideia é ter pelo menos 15% da frota total de ônibus elétricos (130 veículos) em operação até o final de 2024. Em fevereiro devemos ter mais 6 ônibus em operação, totalizando em 8 carros a frota elétrica da RMTC. Para atingir este objetivo o Governo de Goiás, via Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo (CDTC) alterou os contratos de concessão do transporte público de Goiânia ao fazer a separação de capex e opex, ou seja, a separação dos investimentos em infraestrutura e equipamentos (capex) dos custos operacionais (opex). Essa medida visa impulsionar os investimentos na rede metropolitana de transporte coletivo, que atualmente é deficitária e precária.”
Adriano da Rocha Lima relembra que o transporte coletivo da Grande Goiânia conta com 1 mil veículos e que toda a frota deve ser substituída por 100% elétrica até 2026.
Otimização
O Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) aconselha o uso dos elétricos em rotas que evitem engarrafamentos para que haja a otimização da bateria. Inclusive, a durabilidade da bateria é uma das grandes dúvidas que pairam na cabeça de quem utiliza o veículo. Os modelos que circulam em Goiânia utilizam o motor totalmente elétrico alimentado por um conjunto de baterias dentro do veículo. Eles garantem uma autonomia para os ônibus circularem, em média, 250 quilômetros com a carga completa da bateria e não emitem gases do efeito estufa. A durabilidade vai depender do modelo de carregamento adotado: conexão em rede de energia, por cabo superior ou pela via.
Diversos estudos internacionais apontam um desgaste de 3% a 5% por ano. Para evitar isso, a dica é que faça a recarga de bateria total noturna ao invés de pequenas cargas ao longo da operação, que é o maior causador de desgaste da bateria. “O que nós observamos é que na realidade essa perda está muito ligada à forma de recarga. Mas quem tem esse estudo sobre isso hoje no Brasil? Ninguém. Tem que esperar a prática para fazer. Você tem de fazer isso acontecer ao longo do tempo. O que sabemos, colocando na ponta do lápis e analisando o investimento versus operação, é uma diferença de 30%.”
Além disso, Tarcísio destaca que os ônibus elétricos não apresentam diferença na realização de curvas, subidas ou descidas. Além disso, apesar de dar uma impressão de mais lento, ele segue a mesma velocidade. O presidente da CMTC atribui essa sensação ao fato dos veículos serem silenciosos.