A pandemia de covid-19 acentuou um velho conhecido problema brasileiro: a desindustrialização. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a participação industrial no Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 33% desde 2010 e setor perdeu cerca de 800 mil postos de trabalho. De 2011 a 2021, o setor encolheu 20%. A paralisação das fábricas foi marcante, mas não a causa do problema, já que os números refletem a última década. Além disso, a indústria farmacêutica, alimentícia e automobilística, por exemplo, experimentaram crescimento nos últimos anos.
O presidente-executivo da Associação Pro-Desenvolvimento (Adial), Edwal Portilho, atribui a baixa industrialização goiana e nacional a uma série de razões combinadas.
“Temos vários fatores que emperram o desenvolvimento e prejudicam nossa competitividade interna e mundial: milhares de exigências e obrigações acessórias em todos os níveis públicos, lei trabalhista que tem muito a se desenvolver para deixar empresas e trabalhadores com mais liberdade e menos encargos sociais, liberações de licenciamentos e outorgas extremamente morosas e carga tributária excessivamente pesada, que é o que mata a industria brasileira. Temos carga tributária beirando os 50% em vários produtos”, avalia.
Na visão de Portilho, o Brasil precisa de um desenvolvimento econômico social forte pelo volume de população existe, que já deveria estar elaborando há décadas desenvolver um plano estratégico industrial. “Se o Brasil não partir para enxugar a máquina pública e traduzir isso em menos impostos para a produção, infelizmente continuaremos a ser a grande fazenda do mundo exportadora de matéria-prima e a grande mina exportadora de comodities minerais. Se não agregarmos valor processando nossas matérias-primas não alcançaremos uma posição de país desenvolvido.” Ele antecipa que a Adial, juntamente com o Fórum Empresarial, Fundepec e governo de Goiás, têm trabalhado em conjunto na elaboração técnica do programa Agrego, que consolidará o que se deve implementar de ações e iniciativas para avanço nas cadeias industriais do Estado.
O economista Vilmar Carneiro Wanderley, registrado no Corecon/TO, ressalta que o não só o Brasil, como os demais países do BRICS (Rússia, Índia, China e África do Sul), que são um grupo de países emergentes com largas perspectivas de se destacarem economicamente nesse século, têm sofrido o efeito da desindustrialização.
“O fenômeno ocorre em escala planetária e faz com que as indústrias não mais possuam ou respeitem valores nacionalistas. Elas simplesmente, a partir de gestões altamente profissionais, possuem foco nos resultados. Partindo dessa premissa, elas estão sempre prontas e dispostas a flutuarem para qualquer território ou nação que lhes ofereça maior volume de vantagens fiscais e patrimoniais comparativamente com os ambientes onde elas se encontram”, comenta.
Na avaliação do economista, a desindustrialização vem ocorrendo e se intensificando no Brasil, que é um país que “não valoriza e nem se importa de perder as cabeças mais brilhantes e mais destacadas nos cenário nacional e internacional”.