O currículo do desenvolvedor Márcio Pereira Pinto é em inglês. Mas há oito meses ele, de fato, trabalha em uma multinacional, a norte-americana FullStack Labs, de Granite Bay, na California. Ele nunca foi lá, o trabalho é remoto. Aliás, trabalho remoto não é novidade para Márcio. Antes de migrar para uma estrangeira, ele, que mora em Goiânia, trabalhou remoto para o BTG Pactual e Beyond Soluções, ambas em São Paulo, e na gaúcha Checkplant Sistemas. Sem ser remoto, trabalhou por mais de uma década presencial, em Goiânia, para a Simber Tecnologia, Politec, Marx e Celg. Márcio conta deste novo cenário profissional, que hoje é uma realidade do setor de tecnologia. Confira trechos da entrevista abaixo.
Muitos profissionais da área de TI no Brasil estão sendo recrutados por empresas estrangeiras. O movimento já existia antes da pandemia, mas foi acelerado pelo isolamento social e a desvalorização do real frente ao dólar. Para uma pessoa que migrou, fez esse movimento, como encarava antes e como encara agora?
Realmente, antes da pandemia já existia essa opção no mercado. Eu mesmo tenho amigos que já trabalhavam para empresas estrangeiras antes da pandemia, mas era um movimento muito menor do que vemos atualmente ‘pós-pandemia’, isso porque existiam menos ofertas de emprego nesse formato (remoto eterno). Para alguém migrar para essa forma um pré-requisito é o de saber se comunicar em inglês, então normalmente as pessoas que já trabalhavam assim eram aquelas que tiveram alguma oportunidade de morar fora do Brasil e aprender inglês. Para os desenvolvedores que nunca tiveram uma imersão no inglês não era tão chamativo esse mercado, porque o maior salto de aprendizado é no inglês, na parte técnica qualquer programador brasileiro já é capaz de trabalhar para uma empresa estrangeira. Agora, as ofertas de emprego nesse formato se multiplicaram por dez vezes ou mais, mas um programador senior hoje recebe ofertas de entrevista de emprego para empresas estrangeiras semanalmente, isso fez com que o desejo de trabalhar para fora, ganhando em dólar/euro/libra se tornasse mais realista, mais palpável, o único empecilho agora seria o se comunicar em inglês, já que semanalmente recebe uma oferta de entrevista, sem precisar sair procurando.
Tem prós e contras? Fala um pouco sobre os dois lados.
Como prós, o primeiro de tudo, acho que nós, da área de TI, temos aquele sonho de trabalhar em empresas estrangeiras, mesmo que para ter essa experiência. Dá um certo orgulho e sensação de conquista, independente da questão salarial, mas somado a isso ainda existe esse benefício salarial que, querendo ou não, acaba recebendo acima da média que as empresas nacionais pagam. Como prós, eu veria esses dois como principais. A vantagem de ser remoto, nós temos oportunidades dentro do Brasil já. O lado dos contras, tem a parte da adaptação com a língua estrangeira, que não podemos descartar, e que gera um certo desconforto inicial, mas logo se adapta (assim como se adapta em qualquer nova empresa). Eu diria que o trabalhar remotamente tem seus contras, devido à falta de contato humano e as amizades acabam não sendo mais profundas como no modelo presencial (ou híbrido).
Guardadas às devidas proporções nas questões salariais… é como jogador de futebol? Faz a base no Brasil e se tiver talento, se encaixar no perfil exigido, acaba indo?
Quando falamos jogador de futebol a impressão que gera é um salário milionário, mas na realidade as coisas não são assim. Como em qualquer profissão, a grande maioria ganha uma média salarial parecida, mas sempre existe uma minoria que ganha muito mais ou muito menos. Eu diria, com base na minha experiência e percepção, que na média o profissional que trabalha para o exterior ganha três vezes mais do que a média salarial pensando no mercado nacional. Qualquer profissional que já trabalha em empresas nacionais tem a capacidade de trabalhar para empresas internacionais, não precisa ser um gênio talentoso ou alguém diferenciado. Estando na média já consegue encontrar um emprego internacional hoje em dia, só é necessário saber se comunicar em inglês.
As empresas locais ficam desguarnecidas de profissionais e não têm como concorrer. Como acha que pode resolver este problema no longo prazo?
Pensando a longo prazo o ideal seria aumentar o número de profissionais de TI no mercado, com isso a demanda por profissionais teria um equilíbrio melhor entre oferta e procura. Sendo assim tanto órgãos públicos como privados deveriam desde já investir na formação de novos profissionais, começar a plantar agora para colherem em um futuro próximo, além dessa importante iniciativa, as empresas de TI devem continuar se adaptando ao perfil desse profissional, oferecendo melhores salários, associado com qualidade de vida, isto é, mais flexibilidade na carga horária entre outros benefícios.
Como foi seu contato com a empresa? Fale mais dela e do serviço em si? Depois desta apareceram outras te chamando?
Muitas empresas hoje em dia, sejam nacionais ou internacionais, oferecem um bônus financeiro para indicações de profissionais nessa área, caso sejam contratados. No meu caso, um amigo meu que já trabalhava na empresa me indicou (em caso de contratação receberia mil dólares). A empresa entrou em contato comigo e seguiram as etapas normais de um processo seletivo e fui contratado. Trabalho em uma empresa que se chama Fullstack Labs é uma consultoria internacional que está situada na California, onde são responsáveis por alocar profissionais de TI em outras empresas clientes deles. No meu caso, presto serviço para uma empresa cliente chamada Paciolan, também localizada na California, que resumindo possui uma plataforma de venda de tíquetes, ingressos online. O serviço é basicamente o que estamos acostumados no Brasil. Na área de TI, as metodologias de trabalho são padrões no mundo todo. Atualmente para profissionais seniores o convite para entrevistas de empregos tanto nacionais como internacionais surgem semanalmente, se quiser procurar um novo emprego basta aceitar os processos seletivos que chegam até nossas caixas de mensagem, seja no e-mail, LinkedIn ou até mesmo no WhatsApp.